A Fístula Arteriovenosa (FAV): Criação e Manutenção do Acesso Vascular para Hemodiálise
Para pacientes com Insuficiência Renal Crônica (IRC) que precisam de terapia de substituição renal, a **Hemodiálise** é vital. A eficácia desse tratamento, que filtra o sangue, depende inteiramente da qualidade do **acesso vascular**. Dentre as opções, a **Fístula Arteriovenosa (FAV)** é, de longe, o método preferencial. A FAV é uma conexão cirúrgica entre uma artéria e uma veia, realizada pelo cirurgião vascular, que aumenta o fluxo sanguíneo na veia, tornando-a calibrosa o suficiente para as múltiplas punções necessárias na hemodiálise. A criação e, mais importante, a manutenção desse acesso são a chave para a longevidade e qualidade de vida do paciente renal.
O Que É e Como a FAV É Criada
A FAV é o acesso mais durável e com menor risco de infecção. Ela é criada com a união (anastomose) de uma artéria (alta pressão e alto fluxo) a uma veia (baixa pressão) em um procedimento cirúrgico rápido, geralmente sob anestesia local.
O Processo de Maturação da Fístula
Após a cirurgia, a veia precisa de um tempo para se adaptar ao novo fluxo e à alta pressão arterial. Este processo, chamado de **maturação**, leva tipicamente de 4 a 8 semanas. Durante esse período, a veia se dilata (fica mais calibrosa) e suas paredes se espessam, tornando-a mais resistente às punções repetidas. A FAV só pode ser utilizada para hemodiálise quando está totalmente madura, garantindo um fluxo adequado e reduzindo o risco de lesões. O paciente é instruído a realizar exercícios de compressão (como apertar uma bola) para auxiliar na maturação.
Localização e Tipos de Acesso
A escolha do local para a FAV é fundamental e segue o princípio de usar os vasos mais distais (punho) primeiro, preservando as veias mais proximais (braço) para acessos futuros. A FAV pode ser:
- **FAV Autógena:** Criada com a união dos vasos sanguíneos do próprio paciente (a melhor opção por ter maior durabilidade e menor risco de infecção).
- **FAV com Enxerto (Protética):** Utiliza um tubo sintético (prótese) para conectar a artéria e a veia. É indicada quando os vasos nativos do paciente não têm calibre ou condição adequados para a FAV autógena.
O cirurgião vascular utiliza o **Ultrassom com Doppler** antes da cirurgia (mapeamento venoso) para escolher os vasos de melhor qualidade e garantir o sucesso da FAV, que é o seu maior desafio técnico.
Monitoramento e Complicações da FAV
Uma FAV bem-sucedida deve ser rotineiramente monitorada para identificar problemas antes que eles causem a falha do acesso. O paciente deve ser treinado a sentir o “thrill” (vibração) e ouvir o “bruit” (sopro), que indicam o fluxo adequado.
Estenose (Estreitamento)
A **estenose** é a complicação mais comum da FAV e a principal causa de falha. Ela é o estreitamento da veia, geralmente no local da anastomose ou próximo ao local das punções, que diminui o fluxo. Se não tratada, a estenose leva à diminuição da eficácia da hemodiálise e pode causar o inchaço do braço (hipertensão venosa). O diagnóstico é feito pela diminuição do fluxo na FAV, detectado pelo Doppler, e a confirmação é feita com a fistulografia (angiografia do acesso).
Trombose (Oclusão)
A **trombose** é a formação de um coágulo que oclui completamente a FAV. É uma emergência, pois o paciente perde o acesso. Ocorre frequentemente após uma estenose não tratada ou devido a quadros de hipotensão (queda da pressão) durante a hemodiálise. O cirurgião vascular deve intervir rapidamente, geralmente por meio de procedimentos endovasculares de **trombectomia** (remoção do coágulo) para tentar salvar a fístula e restaurar sua função.
Intervenção Vascular para a Manutenção da FAV
A manutenção da FAV é tão crucial quanto sua criação, exigindo a habilidade do cirurgião vascular em procedimentos minimamente invasivos.
Angioplastia por Balão
O tratamento padrão ouro para a **estenose da FAV** é a **Angioplastia por Balão**. Através de uma punção no acesso, o cirurgião insere um cateter até a área estreitada e infla um balão para dilatar o vaso. A Angioplastia restaura o fluxo, prolongando a vida útil da FAV e evitando a necessidade de criar um novo acesso, que é sempre mais difícil e distal.
Uso de Stents e Manejo da Trombose
Em alguns casos de estenoses recorrentes ou em vasos de difícil manutenção, o cirurgião pode optar pelo implante de um **stent** (uma pequena malha metálica) para manter a veia aberta. No caso de trombose, a intervenção imediata, com trombectomia mecânica ou farmacológica, seguida da angioplastia da estenose subjacente, é realizada para salvar o acesso, que é o “salva-vidas” do paciente renal.
A Fístula Arteriovenosa é uma obra de engenharia cirúrgica que exige expertise para ser criada e um monitoramento contínuo para ser mantida. A saúde e a durabilidade do acesso vascular são a prioridade do cirurgião vascular, garantindo que o paciente renal tenha uma vida com mais qualidade e eficácia na hemodiálise. Se você é um paciente renal, cuide da sua fístula como um tesouro; ela é a sua conexão com a vida.
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